domingo, 25 de outubro de 2015

Clave De Sol * Antonio Fraga - RJ

Antologia Dos Poetas Laureados
No Concurso De Poesia De "Leitura"
Apresentação
Adonias Filho

Comissão Julgadora
Carlos Drummond de Andrade, Antonio Olinto e Adonias Filho.
1º Lugar: Homero Homem. 2º Lugar: Otávio Mora. 3º Lugar: Jurandir Bezerra.
Livraria São José
Rio de Janeiro 1958
*
CLAVE DE SOL

I
As uvas cor de sol.
O sol - em negativo,
é como negra lâmpada
em branca cabeleira.

Uva. Pautas. Vindima
de sons, no pentagrama.
Músicas. Sazão.Ritmicos
fonemas de ouro moído
ouvimos, ah ouvimos
remordidas vivências.

Os vinhos de adulto preço
são feitos de olhos límpidos.
Olhar límpido, qual pranto,
tenho uva nas pupilas.

O olhar é vinho tinto
na trova. Safra. As horas
cortam o silêncio, caindo
no quadrante solar.

Clave de som no som
estala em tiques-taques
o sol, esta uva preta.

II

Uva. Pausas. Olhar
que explode, após relâmpagos,
e ilumina a estrada
por onde avançarei.

Os meus pés nunca sabem
o caminho das fugas.
Minhas mãos se recusam
a acariciar os dedos
com a face da amada.

E o amor é resolvido
em palavras-cruzadas:
horizontal - um beijo;
vertical - em tua boca,
minha loura e louca Yeda.

E a solução é a ênfase,
e o trim-dlem é o artístico.
E o sol é clave. E a lâmpada
apagada é a acesa.

III

Enlutado, sem o branco
açúcar - cor de sol,
sem o sal - cor de leite,
o poema é só manchete.

Muito negro (em negrito
a palavra é um CLOSE UP
na tecnica da estrofe)
o verso tem gatilhos.

Chovem séculos.
Chovem séculos.
Chovem séculos.

O tempo domestica os próprios deuses.
O tempo domestica os próprios deuses.
O tempo domestica os próprios deuses.

E muito o olhar, que tomba
como pranto maduro,
das uvas - sóis em eclipse
jorre a luz às avessas.

Antonio Fraga  - RJ, 
nascido no Catumbi, falecido em Nova Iguaçu, contista, cronista, poeta e personagem da boemia carioca, viandante da Lapa ao Mangue da Cidade Nova.
*

Nenhum comentário:

Postar um comentário