ANTOLOGIA
LUSO BRASILEIRA
Org Wagner ribeiro
Editora Coleção FTD Ltda. 1964
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AS VÍTIMAS
No entanto, começava a declinar a tarde; uma voz reuniu todas as senhoras e senhores em um só ponto: serviu-se o café num bela caramanchão, mas como fosse ele pouco espaçoso para conter tão numerosa sociedade, aí só se abrigaram as senhoras, enquanto os homens se conservavam na parte de fora.
Escravas, docemente vestidas, ofereciam chávenas de café fora do caramanchão e, apesar disso, D. Carolina se dirigiu com uma para Fabrício, que praticava com Augusto.
- Eu quero fazer as pazes, Sr. Fabrício; vejo que deves estar muito agastado comigo e venho trazer-lhe uma chávena de café temperado pela minha mão.
Fabrício recuou um passo e colocou-se à ilharga de Augusto; ele desconfiava das tenções da menina: o café não tem açúcar. Então, começou entre os dois um duelo de cerimônias, que durou alguns instantes, e finalmente o homem teve de ceder à mulher. Fabrício ia receber a chávena, quando esta estremeceu no pires... D. carolina, temendo que sobre ela se entornasse o café, recuou um pouco. Fabrício fez outro tanto; a chávena, ainda mal tomada, tombou, o café derramou-se inopinadamente. Fabrício recuou ainda mais com vivacidade, mas, encontrando a raiz de um chorão, que sombreava o caramanchão, perdeu o equilíbrio e caiu ruidosamente na relva. Uma gargalhada geral aplaudiu o sucesso.
- Fabrício espichou-se completamente! exclamou Filipe.
O pobre estudante ergueu-se com ligeireza, mas, na verdade, corado do que acabava de sobrevir-lhe; as risadas continuavam; todas as senhoras tinham saído do caramanchão e riam-se, por sua vez, desapiedadamente. Fabrício daria muito para se livrar dos apuros em que se achava, quando, de repente, soltou também a sua risada e exclamou:
- Vivam as calças do Augusto!
Todos olharam.Com efeito, Fabrício tinha encontrado um companheiro na desgraça. Augusto estava de calça branca e a maior porção do café entornado havia caído nela.
Continuaram as risadas, redobraram os motejos. Duas eram as vítimas.
Joaquim Manuel de Macedo
( A Moreninha),
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