Notícias Do Postal Clube
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Recebi ontem o cartão de FELIZ ANO NOVO do Postal Clube, enviado pela gentil Araci Barreto. Não fosse o detalhe, eu não estaria aqui comentando, preocupado, pois estou habituado pela nossa cultura cristã a receber "boas novas" anunciando o nascimento, a chegada, o aparecimento de uma nova era, de um novo tempo, de uma nova persona etc, mas Araci Barreto é tão sutil que anuncia uma "morte" com a mesma destreza de quem apresenta um troféu.
Vejamos o cartão. Leiamos-lo. Destaquem "A partir de 2016... Vida Nova!" Tinha que ser Araci Barreto! Eu ainda estou sob o impacto da chamada. Parece ironia, mas não é. Araci Barreto é assim mesmo: surpreendente. Descobri isso através de seus textos. Ela consegue sair do sério para o irônico numa vírgula, com uma fineza de lâmina.
Mas o acirramento "cirrótico" da crise que se abate sobre o Brasil não atinge somente o consumo do povão. Não. Atinge também as nossas atividades culturais. São inúmeros os saraus que tiveram seu público minguado, os lançamentos reduzidos a amigos dos autores e seus editores de olho na dívida da edição do livro, seguidos de alguns fãs um tanto fanáticos para darem o ar da graça no evento com suas neuro-performances. E não se reduz a isso. Muitos fanzines, como o Letras Taquarenses, são retraídos a seis ou oito edições por ano devido a esses fatores, além da resposta do respectivo público.
No caso do Postal Clube, a coisa é mais séria, pois Araci Barreto é sua idealizadora, fundadora e única dirigente, contando apenas com a participação direta de familiares e algum apoio financeiro vindo dos associados. Fora disso, apenas a boa vontade de alguns "caraboladores", como o insigne aqui, que divulga com a ajuda das muletas, "linguageiras e publicitáras". Para termos uma ideia mais ajustada dessa situação, esse ano de 2015 não deu condições de lançarmos a 17ª Antologia do Postal Clube. Todos sabemos da dedicação e esforços dispendidos por Araci Barreto, e sabemos também quão doloroso é receber de volta a importância depositada para edição do livro. Simplesmente triste!
Agora, voltem ao cartão, destaquem "O Postal Clube estará apenas na internet". Ou seja, morreu O Jornalzinho! Não teremos mais sobre a mesa o monte de Jornalzinhos que tenho agora. Isto se deve a quê? Respondo que aos tempos modernos. Ou seja, grande parte de nossos escritores, amadores e profissionais, aderiu "de cara!", aos meios de comunicação virtuais, sacrificando o IMPRESSO. Crasso erro! Precisamos entender que uma coisa complementa a outra. Hoje, o IMPRESSO representa uma forma documental da sua obra publicada, e não mais aquela velha fantasia de que a quantidade de exemplares publicados, vendidos ou não, é que faz a diferença. Isso acabou. Com a entrada em campo da mídia virtual, quem souber explorar uma forma aliada à outra, estará fazendo o uso correto dos poderes da mídia, e aquele que se restringir a uma forma ou à outra, infelizmente, não sabe o que está perdendo.
Recentemente, brinquei com Ilma Fontes sobre as necessidades de implementação do site do Jornal O Capital, e ela colocou-me a par dos problemas por ela enfrentados, sobretudo no campo do gerenciamento, concluindo que não abria mão da mídia impressa. Ela está errada? Não! Seja o jornal, o livro ou a revista "impressos" que chegar à nossa residência, ficará ali, como que largadas, até que um parente, um amigo ou uma visita desavisada, meta a mão, pegue, leia e trave contato, participando ou não, mas tornando-se alguém que conhece aquele produto. E a mídia virtual? Sem dúvida que os gurus comunicólogos dirão "È o futuro!". Claro! Só o futuro, mais nada. Pois quem não tiver aptidão para lidar com isso, estará excluído. Excluído e simplesmente. Até por que uma matéria na internet depende de quem saiba buscá-la.
Porém, o encerramento d'O Jornalzinho, órgão informativo do Postal Clube, com edições bimestrais, às vezes até mais, não representa apenas o saldo de tudo que disse acima. É muito mais. E muito mais porque o trabalho editorial, a tarefa de fazer uma publicação, por mais humilde que seja, sempre leva alguém a uma solidão, uma solidão de um tipo diferente, que é a solidão das decisões. Por que publicar a e não b, por que privilegiar um segmento dentro daquilo que buscamos focalizar, por que fazemos opções, às vezes caras, por que seguirmos uma tendência e não outra ou todas?... Simplesmente porque não somos "maria-vai-com-as-outras". Porque temos escolhas, posturas, personalidade e disposição para "pagarmos pra ver!". Ou seja, somos GENTE. E Araci Barreto demonstra, com esses vinte e seis anos de atividade do Postal Clube, que verve não se pega emprestada, não se aluga nem dá pra "fazer de conta". E quem foi divulgado por Araci Barreto n'O Jornalzinho sabe do que estou falando, sabe que fechou-se mais uma porta para seu talento e todos sabemos quão isso é doloroso. Por exemplo, todos estamos sentindo a ausência d'O Patusco, editado em Caucaia - CE, pelo escritor cearense João Batista Serra, que por motivos de saúde, está dando um tempo.
Bom, acho que disse o que pretendia sobre esse mal-estar causado pelo fim d'O Jornalzinho. E agora sinto-me à vontade para dizer aquilo que pretendia: convidar todos os escritores, poetas ou não, a fazerem-se ativos, presentes, parte real dos empreendimentos literários em que participem e encerrem essa coisa de "ficar na aba..."
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